Chegou a hora de entender todos os cuidados necessários na hora da anestesia em idosos! A ciência moderna propiciou avanços significativos em todos os campos, sobretudo na área da medicina. A população que mais se beneficiou desse salto de qualidade foi a idosa, composta por pessoas a partir de 60 anos, que passaram a contar com recursos inatingíveis no passado e que hoje lhes garantem qualidade de vida e tratamento para inúmeras doenças.
No entanto, se por um lado a medicina reuniu mais recursos, esse mesmo conhecimento lançou luz sobre outros cuidados e preocupações sobre os procedimentos dirigidos aos idosos. O processo de anestesia, principalmente, que por si já desperta medos e receios em pacientes de todas as idades, nos idosos traz um sentimento muitíssimo maior. E com razão, porque essa faixa etária traz consigo, naturalmente, diversas enfermidades que exigem máxima atenção quando um procedimento cirúrgico se faz necessário.
Os progressos científicos da moderna Anestesiologia permitem um preparo apurado para todo tipo de procedimento envolvendo os idosos, incluindo baterias de exames para determinar com exatidão o estado do paciente e planejar detalhadamente todos os passos do procedimento para a sua total segurança.
Procedimento anestésico em idosos
A importância do protocolo e da avaliação pré-anestésica
Todo processo cirúrgico e anestésico apresenta graus diferentes de complexidade. Do procedimento simples ao mais delicado, todos requerem cuidados extremos quando o paciente é idoso.
- Avaliação pré-anestésica: Uma boa conversa é um bom começo: no idoso, o estado de ansiedade e estresse se manifesta com maior intensidade. Nesse contexto, o papel do anestesista é tão fundamental quanto o do cirurgião. Por isso, o convite para um bom bate-papo pode ser positivo e tranquilizador, pois serão esclarecidas várias dúvidas, inclusive sobre a anestesia.
Os cuidados com a anestesia englobam uma série de avaliações, entre as quais, profunda análise do histórico clínico do paciente, o estado físico, contemplando as vias aéreas; o tipo de jejum adequado, eventuais alergias, hábitos, medicação regular e aquela específica para o pré-operatório. Todo esse processo vai possibilitar uma classificação do estado físico do paciente e conduzir o processo anestésico de acordo com a complexidade do procedimento.
Saiba mais sobre os protocolos e a importância da avaliação pré-anestésica.
- Durante a cirurgia, o anestesista estará presente, checando a segurança de todo o procedimento. Sua atenção está voltada para o estado clínico do paciente, monitorando o funcionamento dos equipamentos, a disponibilidade a todos os materiais e medicamentos, verificando procedimentos em eventuais perdas sanguíneas e alteração de pressão, entre outros cuidados.
- O período pós-operatório para um paciente idoso é determinante para sua recuperação. Por isso vários cuidados especiais são adotados, entre eles a alimentação certa, o repouso, a garantia do equilíbrio dos sistemas orgânicos e a prevenção de complicações inesperadas. E como todo procedimento invasivo gera desconfortos e dores, o acompanhamento do anestesista será essencial nesse período, prescrevendo medicamentos capazes de manter estes sintomas sob controle, tornando o processo pós-operatório menos traumático possível.
Saiba mais sobre o papel do anestesista no pós-operatório.
Por fim, é primordial reafirmar que todo o processo anestésico é cercado de cuidados para garantir a segurança do paciente idoso.
Qual anestesia é indicada para idosos?
Durante a etapa de avaliação pré-anestésica, o médico anestesista realiza uma cuidadosa análise para determinar o anestésico mais adequado para a cirurgia em questão. É fundamental compreender as distinções entre os tipos de anestesia.
A anestesia local é empregada para bloquear reações nervosas, incluindo a sensação de dor, mantendo, no entanto, o paciente consciente durante todo o procedimento.
Já a anestesia geral é reservada para procedimentos mais complexos nos quais é essencial a completa inconsciência do paciente, visando evitar desconfortos e dores. Quando se trata de um paciente idoso, a atenção e monitoramento das funções orgânicas são realizados de forma intensiva e contínua.
Em contraste, a sedação, ao contrário da anestesia geral, é necessária para promover apenas uma redução da consciência do idoso, sem comprometer sua capacidade de respirar e responder a estímulos, sempre sob os cuidados diretos do anestesista.
Saiba mais sobre os tipos de anestesia e quando são indicadas.
Efeitos da anestesia em idosos
Anestesia geral em idosos é perigosa?
Efeito da anestesia geral na cognição e na memória do idoso
A gestão da anestesia em idosos tem sido objeto de debates intensos, exigindo uma atenção especial. À medida que a idade avança, as inquietações acerca da segurança relacionada ao uso de anestesia em idosos tornam-se motivo de preocupação para seus familiares, dada a natural fragilização da saúde ao longo dos anos.
Durante a administração de anestesia em idosos, uma das principais preocupações concentra-se na possibilidade de ocorrer Delirium Pós-operatório (DPO) e Disfunção Cognitiva Pós-Operatória (DCPO). Vamos esclarecer melhor esses efeitos.
O que é Delirium Pós-operatório (DPO)?
O termo delirium refere-se a uma alteração aguda e flutuante do estado mental, com redução da consciência e distúrbio da atenção, que não pode ser atribuída a uma demência previamente existente ou em evolução. O Delirium Pós-operatório (DPO) é uma complicação adversa que pode ocorrer após cirurgias em pacientes de qualquer faixa etária, desde crianças até idosos, sendo mais prevalente neste último grupo.
Embora a maioria dos idosos se recupere da anestesia de maneira gradual e sem intercorrências, alguns podem apresentar um estado confusional após esse período de lucidez, caracterizando o delirium pós-operatório. Esse fenômeno é definido como um distúrbio transitório e flutuante da consciência, atenção, cognição e percepção.
O que é Disfunção Cognitiva Pós-Operatória (DCPO)?
Este fenômeno, frequentemente observado em idosos submetidos a cirurgias sob anestesia geral, manifesta-se por impactos temporários na memória e concentração, podendo, em casos específicos, tornar-se permanente.
O momento em que ocorre o déficit pós-operatório está intrinsecamente relacionado à profundidade da anestesia. Anestesias excessivamente superficiais podem resultar em recordações intraoperatórias, o que é desaconselhável na maioria dos casos. Em contrapartida, evidências recentes indicam que anestesias mais profundas aumentam a incidência de DCPO.
Para mitigar o risco de DCPO, uma abordagem essencial é a realização de uma avaliação pré-anestésica conduzida por um médico anestesiologista, como mencionado no início do texto. Essa avaliação desempenha um papel determinante ao orientar o anestesista sobre como proceder durante a cirurgia, identificar possíveis condições de saúde que possam impactar o procedimento e selecionar as táticas e técnicas anestésicas mais apropriadas para cada caso. Isso proporciona ao paciente maior segurança e compreensão do procedimento a ser realizado, contribuindo para sua tranquilidade antes da anestesia.
Apesar dessas preocupações, é relevante destacar que avanços tecnológicos e estudos científicos têm introduzido medidas para reduzir a incidência de DPO e DCPO. Ainda assim, a administração de anestesia requer cautela e atenção meticulosa. O acompanhamento do anestesista durante todo o processo cirúrgico do paciente idoso é fundamental.
Quais os riscos de uma cirurgia em idosos?
Em certas situações, uma cirurgia pode ser a única alternativa para salvar a vida de um indivíduo. Contudo, é essencial reconhecer que, especialmente no caso de idosos, o procedimento cirúrgico não está isento de riscos significativos, independentemente de sua aparente simplicidade ou regularidade.
O avançar da idade implica em alterações no sistema imunológico e no funcionamento orgânico, dificultando a recuperação pós-cirúrgica. Para idosos dependentes e mais frágeis, a frequência de intervenções cirúrgicas e a permanência em ambientes hospitalares devem ser minimizadas sempre que possível.
As preocupações começam com a anestesia e os potenciais efeitos adversos, como Delirium Pós-operatório (DPO) e Disfunção Cognitiva Pós-Operatória (DCPO). No entanto, os riscos associados a cirurgias em idosos abrangem uma gama mais ampla. Insuficiência cardíaca, insuficiência renal, trombose, embolia pulmonar, infecção urinária e obstrução intestinal são consideradas as principais complicações. A duração da permanência no centro cirúrgico também é motivo de preocupação, levando a Sociedade Brasileira de Cirurgia a desaconselhar cirurgias prolongadas em idosos debilitados. Essas complicações são reduzidas em cirurgias programadas, que envolvem supervisão médica rigorosa e procedimentos pré-operatórios completos.
Vale ressaltar que diferentes procedimentos cirúrgicos apresentam distintos níveis de risco. Cirurgias abdominais ou torácicas, remoção da próstata e intervenções em articulações importantes, como a artroplastia do quadril, são classificadas como procedimentos de alto risco. Já procedimentos mais comuns em idosos, como cirurgias de catarata e em pequenas articulações, tendem a representar riscos menores. Na presença de boa saúde geral, a maioria das cirurgias, mesmo aquelas consideradas de alto risco, podem ser realizadas com segurança.
A redução de riscos é possível mediante um acompanhamento adequado, enfatizando a importância da avaliação pré-anestésica e do exame de risco cirúrgico para reduzir as complicações e a mortalidade associadas a procedimentos invasivos.
O exame de risco cirúrgico em idosos inicia-se com uma anamnese detalhada, avaliação física abrangente e exames complementares. A anamnese é crucial para obter informações sobre condições médicas pré-existentes, tratamentos medicamentosos anteriores e histórico cirúrgico. Complementando o exame clínico, a avaliação física engloba exames funcionais para identificar a fragilidade, estado cognitivo e outras condições relevantes.
Com base nessas informações, a equipe multidisciplinar avança para a solicitação de exames laboratoriais e de apoio ao diagnóstico. Exames como o eletrocardiograma, que avalia a atividade elétrica do coração, e os exames laboratoriais padrão, como hemograma, glicemia de jejum, triglicérides, creatinina e ureia, coagulograma, entre outros, são comuns nesse processo de avaliação de risco cirúrgico em idosos.