A palavra dor tem origem no latin, e significa sofrimento. Após vários estudos, hoje é possível afirmar que a dor é uma condição complexa e que não se resume a uma sensação desagradável. Trata-se de uma modalidade sensorial essencial à sobrevivência, principalmente quando nos referimos à dor aguda (que pode indicar uma condição de doença), e que podem resultar em incapacidades e inabilidades nos indivíduos afetados. Além disso, para entendermos a dor em cada indivíduo é necessário envolver aspectos emocionais e sociais em que está inserido.
O que é dor?
A dor pode ser entendida como uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou semelhante aquela associada a uma lesão tecidual real ou potencial. Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas experiências anteriores. A expressão da dor varia não somente de um indivíduo para outro, mas também de acordo com as diferentes culturas; portanto a dor é sempre uma experiência pessoal que é influenciada, em graus variáveis, por fatores biológicos, psicológicos e sociais. A descrição verbal é apenas um dos vários comportamentos para expressar a dor; a incapacidade de comunicação não invalida a possibilidade de um ser humano ou um animal sentir dor.
Outro fator que deve ser levado em consideração para avaliar e tratar a dor, é que dor e nocicepção são fenômenos diferentes, não sendo determinada exclusivamente pela atividade dos neurônios sensitivos.
Como a dor acontece?
Segundo estudo publicado pela Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED) em 2017, aproximadamente 37% dos brasileiros relatam quadro de dor crônica (dor que persiste por mais de 3 meses). Outro estudo identificou que cerca de 20% da população mundial apresentam quadro de dor intratável, que resulta na incapacidade do paciente. Diante destes e outros estudos, torna-se essencial a compreensão do mecanismo de ocorrência dor, para que tratamentos cada vez mais assertivos sejam utilizados.
A dor pode ocorrer seguindo a transmissão dos sinais elétricos através dos nociceptors (são receptores sensoriais que são responsáveis por detectar estímulos prejudiciais ou nocivos e transmitir sinais elétricos ao sistema nervoso) até o sistema nervoso central, sendo chamada de dor nociceptora, ou por meio de lesão de nervos envolvidos no caminho de condução dos estímulos dolorosos até o sistema nervoso central, o que caracteriza a dor neuropática. Por fim, quando existe um conjunto de fatores que levam ocorrência da dor, é chamada de dor mista.
Em um mecanismo típico, estímulos (mecânico, químico ou físico) são compreendidos por terminações nervosas nos nociceptores. Através de mecanismos químicos este estímulo é conduzido até a medula óssea, cuja função é encaminhar o estímulo até o encéfalo. O processamento central da dor vai ocorrer em cinco vias ascendentes principais até o tálamo, que funciona como uma estação de transmissão, direcionando informações sensoriais até o córtex cerebral. No córtex cerebral esse estímulo é traduzido em sensação, levando-se em consideração as questões psicológicas e sociais, que levam a cada indivíduo interpretar a dor de forma única.
Mecanismo da anestesia para bloqueio da dor
Anestesia é suspensão geral ou parcial da sensibilidade, em decorrência de problemas neurológicos, ou induzida por um agente anestésico. O procedimento para administração de agentes anestésicos é um procedimento médico que visa bloquear temporariamente a capacidade do cérebro de reconhecer um estímulo doloroso, possibilitando a realização de procedimentos cirúrgicos, invasivos e exames no paciente.
A anestesia pode ter ação local, regional ou geral. O objetivo de todas é bloquear a sensação de dor.
Anestésico local pode ser definido como um fármaco que pode bloquear de forma reversível a transmissão do estímulo nervoso no local onde for aplicado, sem ocasionar alterações no nível de consciência. Existem muitas drogas que, além de seu uso clínico habitual, exercem atividade anestésica local São utilizados em vários procedimentos, desde anestesia tópica de mucosas, bloqueios regionais até correção de arritmias ventriculares.
A anestesia regional bloqueia a dor em apenas uma determinada região do corpo, sendo as mais utilizadas descritas abaixo:
• Raquidiana: é a administração do fármaco no espaço subaracnóide na coluna lombar, que leva ao bloqueio da transmissão dos estímulos nervoso pela medula espinhal, resultando em perda da atividade autônoma, sensitiva e motora. A raquianestesia é indicada para cirurgias na região abdominal e extremidades inferiores, baixo do abdômen.
• Peridural: é a administração do fármaco na região peridural, que fica ao redor do canal espinhal, e não propriamente dentro, como no caso da anestesia raquianestesia.Comumente utilizada para a realização de parto, produz efeito anestésico por maior tempo e em menor volume de fármaco administrado.
A duração da anestesia regional, na qual ocorre o bloqueio de nervos, fica na dependência da colocação ou não de um cateter para administração de dose adicional do anestésico, permitindo assim que sua duração possa se estender por mais tempo.
A anestesia geral é administrada geralmente por via endovenosa e inalatória (exclusivo ou combinado), e atua no bloqueio dos estímulos no sistema nervoso central. Habitualmente o paciente fica inconsciente e necessita de suporte ventilatório, para manutenção da vida. Durante o procedimento é mantida uma dose de anestésico e garantindo o efeito anestésico, ao final do procedimento o volume do anestésico é reduzido e medicamentos antagonistas são administrados, para reverter a ação dos anestésicos. É utilizada geralmente em procedimentos cirúrgicos complexos e de grande duração.
O tipo de anestesia deve ser realizada de acordo com o tipo de procedimento a ser realizado, avaliando o objetivo do bloqueio da dor (local, regional, geral). O anestesiologista realizará a avaliação do paciente para adequação do procedimento, reduzindo os riscos existente no procedimento.