O diabetes se configura como uma das doenças crônicas mais prevalentes e complexas do mundo. No Brasil, um dos países com maior incidência da doença no mundo, estima-se que quase 20 milhões de pessoas tenham diabetes, com um impacto significativo na saúde individual e coletiva.
Neste artigo desvendaremos os mistérios do diabetes, aprofundando-nos em seus diversos aspectos e fornecendo informações precisas.
O que é Diabetes?
Hiperglicemia
O diabetes Mellitus é uma doença metabólica caracterizada por níveis elevados de glicose (açúcar) no sangue. A glicose, principal fonte de energia para o corpo, é obtida através da alimentação e precisa ser transportada para as células pela insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas.
No diabetes, a produção de insulina pode estar deficiente ou o corpo pode apresentar resistência à sua ação . Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: o acúmulo de glicose no sangue, gerando diversos problemas de saúde.
Quais os tipos de Diabetes?
Qual a diferença entre diabetes tipo 1 e tipo 2?
Diabetes tipo 1
Ocorre quando o sistema imunológico ataca as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina, levando à sua ‘destruição’.
Embora seja possível desenvolver em qualquer idade, geralmente se manifesta na infância ou adolescência, exigindo a administração de insulina por toda a vida.
Diabetes tipo 2
Representa a forma mais comum da doença (cerca de 90%), caracterizada pela resistência à insulina. Diferente do tipo 1 que possui anticorpos que atacam a produção de insulina, o tipo 2 é influenciado pelo estilo de vida, resultando em um excesso de peso e outros problemas, inclusive o diabetes tipo 2.
Embora seja mais comum afetar pessoas a partir dos 50 anos, está se tornando cada vez mais comum ver pessoas mais jovens desenvolvendo a doença.
Diabetes gestacional
Surge durante a gravidez, geralmente no terceiro trimestre, e normalmente desaparece após o parto. No entanto, aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro, tanto para a mãe quanto para o bebê.
Saiba mais sobre a diabetes gestacional.
Quais os sintomas do diabetes?
O diabetes geralmente se manifesta por:
Micção frequente (poliúria)
O aumento da produção de urina pode levar a idas frequentes ao banheiro, inclusive à noite.
Sede excessiva (polidipsia)
O corpo tenta eliminar o excesso de glicose através da urina, levando à necessidade frequente de urinar e à sensação de sede constante.
Fome intensa (polifagia)
Apesar de comer em quantidades normais, a pessoa com diabetes pode sentir fome constante devido à má utilização da glicose pelas células.
Fadiga
A falta de energia para as atividades diárias é um sintoma comum, pois as células não recebem glicose suficiente para funcionar corretamente.
Visão embaçada
O alto nível de glicose no sangue pode danificar os vasos sanguíneos dos olhos, afetando a visão.
Perda de peso inexplicável
A glicose não utilizada pelo corpo pode ser eliminada na urina, levando à perda de peso sem esforço.
Formigamento ou dormência nos pés
A neuropatia diabética pode causar formigamento, dor, dormência ou fraqueza nos membros inferiores.
Cicatrização lenta
O diabetes pode prejudicar a circulação sanguínea, dificultando a cicatrização de feridas e cortes.
Fraqueza muscular
Diminuição da força muscular, dificultando a realização de atividades físicas e tarefas diárias.
Mudanças de humor
Irritabilidade, oscilações de humor, ansiedade e depressão podem estar relacionados ao diabetes, especialmente se não controlado.
Náusea e vômitos
Náusea, vômitos e perda de apetite podem ocorrer em casos mais graves de diabetes, principalmente no diabetes tipo 1.
Como é feito o diagnóstico?
Como saber se tenho diabetes?
O diagnóstico é realizado através de exames de sangue que medem os níveis de glicose:
- Glicemia em jejum: Nível de glicose no sangue após 8 horas de jejum. Valores superiores a 126 mg/dL em duas medidas distintas confirmam o diabetes.
- Glicemia pós-prandial: Nível de glicose no sangue duas horas após uma refeição. Valores iguais ou superiores a 200 mg/dL em duas medidas distintas confirmam o diabetes.
- Teste de glicemia capilar aleatória: Nível de glicose no sangue em qualquer momento do dia, sem jejum prévio. Valores iguais ou superiores a 200 mg/dL indicam forte suspeita de diabetes.
- Hemoglobina glicada (HbA1c): É um dos principais exames na investigação, por não precisar de jejum. Mede a média de glicose no sangue nos últimos 2-3 meses. Em um indivíduo normal, sem diabetes o nível normal será de 4,5 a 5,6%, Já no pré-diabetes, os valores apresentados serão entre 5,7 e 6,4%. Valores iguais ou superiores a 6,5% confirmam o diabetes.
Fonte imagem: Exame – Medicina Diagnóstica
Como é o tratamento do diabetes?
O tratamento visa controlar os níveis de glicose no sangue e prevenir complicações. As medidas variam de acordo com o tipo de diabetes e a gravidade da doença. Mas independente de qualquer tipo ou gravidade, uma coisa é certa; é necessária uma mudança no estilo de vida com a adoção de hábitos saudáveis como alimentação balanceada, prática regular de exercícios físicos e controle do peso.
Abordagem personalizada
O tratamento deve ser individualizado, levando em consideração diversos fatores como idade, tipo de diabetes, gravidade da doença, estilo de vida, comorbidades e preferências do paciente.
É fundamental que o paciente esteja envolvido nas decisões sobre seu tratamento e que tenha acesso a uma equipe multidisciplinar de saúde qualificada para fornecer suporte e orientação contínuos.
Alimentação
A adoção de uma dieta balanceada e individualizada é fundamental para o controle da glicemia. Um nutricionista pode auxiliar na elaboração de um plano alimentar adequado às suas necessidades e preferências.
Atividade física
A prática regular de exercícios físicos, pelo menos 30 minutos por dia, 5 dias por semana, é essencial para melhorar a sensibilidade à insulina, controlar o peso e reduzir o risco de doenças cardiovasculares.
Controle do peso
Perder peso, mesmo que seja uma pequena quantidade, pode ter um impacto significativo no controle da glicemia, especialmente em pessoas com diabetes tipo 2.
Parar de fumar
O tabagismo aumenta o risco de complicações, como doenças cardíacas, AVC e retinopatia diabética. Parar de fumar é fundamental para a saúde geral e o controle da doença.
Redução do estresse
O estresse pode elevar os níveis de glicose no sangue. Técnicas de relaxamento, como meditação e yoga, podem ser úteis para controlar o estresse e auxiliar no manejo do diabetes.
Sono regular
Dormir de 7 a 8 horas por noite é importante para a saúde geral e o controle da glicemia. A privação do sono pode aumentar a resistência à insulina e dificultar o controle.
Medicação
- Insulina: A insulina é essencial para o tratamento do tipo 1 (com injeções diárias) e pode ser necessária em alguns casos de tipo 2. A administração pode ser feita por injeções, bombas de insulina ou outros dispositivos.
- Inibidores da alfaglicosidase: bloqueiam a digestão e a absorção de carboidratos no intestino (Tipo 2)
- Sulfonilureias: aumentam a produção de insulina pelas células do pâncreas. (Tipo 2)
- Glinidas: também promovem a produção de insulina pelo pâncreas. (Tipo 2)
- Outros medicamentos: Outros medicamentos podem ser utilizados para tratar complicações do diabetes, como hipertensão, colesterol alto e problemas renais.
Monitoramento da glicemia
O monitoramento regular da glicemia é fundamental para avaliar o controle da doença e ajustar o tratamento quando necessário. A frequência do monitoramento dependerá do tipo de diabetes, da medicação utilizada e da gravidade da doença.
Tecnologia e inovações
A tecnologia está transformando o manejo do diabetes, oferecendo novas ferramentas para auxiliar no controle da glicemia e na qualidade de vida das pessoas com diabetes.
Alguns exemplos incluem:
- Aplicativos para smartphones: Diversos aplicativos podem auxiliar no monitoramento da glicemia, na contagem de carboidratos, na gestão da medicação e na adoção de hábitos saudáveis.
- Monitores de glicemia contínuos: Esses dispositivos podem ser utilizados por pacientes que necessitam de insulina para controlar a diabetes e ajustar o tratamento conforme necessário. Esse sistema envolve um sensor portátil aplicado ao corpo, que monitora automaticamente os níveis de glicose, automaticamente 24 horas por dia.
- Bombas de insulina: As bombas de insulina são pequenos dispositivos eletrônicos que fornecem insulina de ação rápida de maneira contínua, por meio de um tubo e uma cânula inserida sob a pele. Este sistema libera insulina em doses muito pequenas ao longo de 24 horas, ajustando-se às necessidades individuais do paciente. Utilizadas principalmente por pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2, as bombas de insulina simulam a função natural do pâncreas, oferecendo um controle mais preciso dos níveis de glicose no sangue.
- Sistemas de fechamento de alça: Trata-se de um monitor contínuo de glicose que ajusta a infusão de uma bomba de insulina. No entanto, o usuário ainda precisa informar a quantidade de carboidratos que vai consumir para evitar a hiperglicemia após as refeições.
Autocuidado
O autocuidado é indispensável para o sucesso do tratamento. Isso inclui:
- Tomar os medicamentos conforme prescrito pelo médico.
- Monitorar a glicemia regularmente.
- Seguir as orientações alimentares e de atividade física.
Quais as complicações do diabetes?
O diabetes não controlado pode levar a graves complicações a longo prazo, afetando diversos órgãos e sistemas do corpo. É fundamental o controle rigoroso da glicemia para minimizar esses riscos.
Neuropatia diabética
Danos nos nervos causados pelo alto nível de glicose no sangue, podendo levar a dormência, formigamento, dor crônica e perda de sensibilidade, principalmente nos membros inferiores.
Nefropatia diabética
Comprometimento dos rins, podendo evoluir para insuficiência renal crônica e diálise.
Retinopatia diabética
Danos nos vasos sanguíneos da retina, podendo causar perda parcial ou total da visão.
Doença cardiovascular
Pessoas com diabetes apresentam maior risco de infarto do miocárdio, angina e acidente vascular cerebral (AVC).
Pé diabético
A má circulação e a neuropatia diabética podem levar a ulcerações e infecções nos pés, aumentando o risco de amputações.
Problemas de pele
Infecções fúngicas e bacterianas na pele são mais frequentes em pessoas com diabetes.
Doença ocular (retinopatia)
Danos nos vasos sanguíneos da retina, levando à perda gradual da visão se não for tratada.
Saúde bucal prejudicada (inflamação nas gengivas)
Aumento do risco de doenças gengivais, como gengivite e periodontite, que podem causar sangramento, mau hálito e perda de dentes.
Diabetes pode levar a cegueira?
Sim, se não for tratada e monitorada de maneira adequada. Uma das principais complicações que podem afetar a visão é o dano aos vasos sanguíneos da retina, conhecido como retinopatia diabética. Esta condição pode levar à perda gradual da visão se não for detectada e tratada a tempo.
O controle inadequado dos níveis de glicose no sangue e a falta de acompanhamento da saúde ocular aumentam significativamente o risco de desenvolver retinopatia diabética. Infelizmente, muitas pessoas com diabetes não recebem cuidados oftalmológicos regulares, resultando em diagnósticos tardios. Estudos indicam que entre 70 a 90% dos diabéticos já apresentam algum grau de doença na retina no momento do primeiro exame oftalmológico, o que indica uma fase avançada da condição e um maior risco de cegueira.
Portanto, é importante que os pacientes com diabetes realizem exames oftalmológicos periódicos e mantenham um controle rigoroso da glicose, além de seguir as orientações médicas para prevenir ou retardar o desenvolvimento de complicações oculares graves.
Diabetes mata?
Sim, pode levar à morte se não for tratada e controlada adequadamente. Existem várias complicações graves associadas que podem ser fatais.
Um exemplo significativo é o risco aumentado de doenças cardiovasculares. No Brasil, cerca de 50% das mortes por causas cardiovasculares estão associadas à diabetes, evidenciando o impacto severo da doença no sistema cardiovascular.
Outro exemplo é a cetoacidose diabética, uma complicação aguda mais comum no diabetes tipo 1. Esta condição ocorre quando os níveis de glicose no sangue estão extremamente altos devido a uma deficiência profunda de insulina, resultando no acúmulo de cetonas no corpo. Se não tratada rapidamente, a cetoacidose pode levar ao coma e até à morte. Portanto, é indispensável que as pessoas com diabetes mantenham um controle rigoroso dos seus níveis de glicose e sigam as orientações médicas para evitar essas complicações fatais.
Abordagem multidisciplinar do diabetes
O manejo do diabetes requer uma abordagem multidisciplinar envolvendo diversos profissionais de saúde:
- Médico Endocrinologista: Especialista no diagnóstico e tratamento do diabetes.
- Nutricionista: Elabora um plano alimentar personalizado para controlar a glicemia.
- Oftalmologista: Realiza o acompanhamento periódico para prevenir complicações oculares.
- Nefrologista: Atua na prevenção e tratamento de complicações renais.
Conclusão
O diabetes é uma doença crônica que requer atenção e cuidados contínuos. Com diagnóstico precoce, tratamento adequado e adoção de hábitos saudáveis, é possível conviver bem com o diabetes e prevenir complicações.
Este artigo forneceu uma visão abrangente sobre o diabetes. Para aprofundamento em aspectos específicos, consulte sempre um médico qualificado.
Saiba mais em:
- Sociedade Brasileira de Diabetes [SBD]
- Ministério da Saúde. Diabetes mellitus.
- American Diabetes Association
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