Na complexa trama da assistência à saúde, onde diferentes modelos delineiam a organização dos serviços, há um elemento constante e inquestionável: o papel ativo do paciente. O protagonismo desempenhado pelo paciente vai além de um destinatário passivo de cuidados, transformando-se em um colaborador ativo, insubstituível na construção do seu próprio cuidado.
Assim, sua participação engajada enriquece sua própria jornada de saúde e fortalece os fundamentos do sistema de assistência. Ao questionar, buscar informações e assumir a responsabilidade de alinhar elementos importantes para um atendimento eficaz, o paciente se torna um parceiro valioso na promoção da prevenção e na busca pelo bem-estar.
O que é assistência à saúde?
Antes de iniciarmos o tema central do nosso artigo sobre a importância do papel do paciente, precisamos entender o que significa ‘assistência à saúde’.
A assistência à saúde compreende o conjunto de ações e serviços voltados para a promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação da saúde de indivíduos e comunidades. Essa abordagem visa assegurar o bem-estar físico, mental e social, proporcionando cuidados abrangentes ao longo da vida.
A importância da assistência à saúde reside na sua capacidade de preservar e melhorar a qualidade de vida das pessoas, prevenindo doenças, identificando precocemente condições de saúde, e tratando de forma eficaz as enfermidades. Além disso, a assistência contribui para a redução da morbimortalidade, promove a equidade no acesso aos serviços de saúde e fortalece os sistemas de saúde, fundamentais para o desenvolvimento sustentável das comunidades e sociedades. Através de uma assistência eficiente, é possível criar ambientes propícios para a prosperidade e o alcance do potencial máximo de cada indivíduo.
Modelos de Assistência à saúde
A organização da assistência à saúde, tanto no âmbito público quanto no privado, segue uma lógica central denominada modelo de assistência à saúde. Este modelo direciona e organiza os recursos financeiros e humanos do sistema, estabelecendo diferentes abordagens e enfoques na prestação de cuidados. A seguir, apresentamos cinco dos principais modelos de assistência à saúde:
Modelo Sanitarista:
Prioriza prevenção e promoção da saúde, com foco em campanhas preventivas e mudanças nos hábitos de vida.
Modelo Hegemônico
Concentra-se em demandas espontâneas, resolvendo problemas de saúde pontualmente e resultando em maior medicalização.
Modelo Médico Assistencial Privatista:
Atende demandas espontâneas com foco em procedimentos especializados, destacando exames e terapias realizadas por especialistas.
Modelo de Atenção Gerenciada:
Integra assistência e gestão, analisando custo-benefício, eficácia e medicina baseada em evidências, com diretrizes de rastreamento de doenças.
Modelos de Campanhas Sanitárias e Programas Especiais:
Utilizados em situações excepcionais, como pandemias, demandam integração público-privada e gestão verticalizada, mas enfrentam desafios como alto custo e necessidade de revisão frequente.
Qual o papel do paciente?
Independente do modelo de assistência à saúde, uma constante prevalece: o protagonismo ativo do paciente é inquestionável. Na trama da saúde, o papel do paciente não é ser um destinatário passivo, mas sim um colaborador ativo que desempenha um papel insubstituível em seu próprio cuidado.
Sua participação ativa e engajada enriquece a jornada de saúde individual e também fortalece os alicerces do sistema de assistência. Nesse sentido o paciente, ao se mostrar interessado e atento, vai além de um mero receptor de cuidados, tornando-se um parceiro valioso na promoção da prevenção e no alcance do bem-estar.
Assumindo a responsabilidade de alinhar informações relevantes, o paciente contribui diretamente para a eficácia do atendimento, garantindo que sua experiência seja personalizada e bem-sucedida. Em última análise, o envolvimento proativo do paciente fortalece o tecido do sistema de assistência à saúde como um todo, evidenciando que, juntos, pacientes e profissionais de saúde formam uma equipe indispensável na promoção de uma assistência de qualidade.
Papel do paciente: engajamento
O cuidado centrado no paciente é essencial para promover uma abordagem holística e eficaz em relação ao tratamento. Então é fundamental estimular a participação ativa do paciente, mantendo-o devidamente informado e compartilhando decisões relacionadas ao seu processo de cuidado. Dentre as principais dúvidas que podem surgir durante essa jornada, destacam-se:
- Preciso de receita para adquirir esses medicamentos?
- Para que servem esses medicamentos?
- Quais são os efeitos colaterais do medicamento?
- Quando e por quanto tempo devo tomar esse medicamento?
- É necessário preparo para a realização de cirurgia/exame?
- Quais são os riscos desse procedimento ou dessa anestesia?
- Quais tipos de anestesia são indicadas para esta cirurgia?
- Quais são os benefícios desse tratamento para mim?
- Eu posso sentir dor ou algo durante a cirurgia/anestesia?
- O que devo fazer se eu tiver alguma dúvida posteriormente?
Além disso, para exercer uma posição de protagonismo em seu cuidado, é preciso ter sempre em mãos, durante uma consulta anestésica ou não, uma lista com informações, como:
- Medicamentos e Suplementos em Uso: Relação completa dos medicamentos e suplementos que estão sendo utilizados.
- Alergias: Indicação de quaisquer alergias a substâncias ou alimentos.
- Histórico de Saúde Familiar: Informações sobre o histórico de saúde de familiares próximos.
- Queixas de Saúde Atuais: Descrição de dores e alterações no corpo que estão sendo experimentadas.
- Resultados de Exames Recentes: Apresentação dos resultados de exames médicos mais recentes realizados.
Assim ao integrar esses elementos, promovemos uma abordagem mais abrangente e personalizada no cuidado ao paciente, garantindo uma experiência mais informada e participativa em relação ao seu tratamento.
Falhas na assistência à saúde
Compreendemos que, embora seja inevitável a ocorrência de erros em qualquer sistema, os dados alarmantes levantados em relação às falhas ocorridas em 2022 pela Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e da Segurança do Paciente (Sobrasp) destacam a urgência de aprimoramentos significativos.
O Brasil testemunhou aproximadamente 300 mil incidentes relacionados a deficiências na assistência à saúde. Essas informações foram meticulosamente coletadas pela Sobrasp, com base em dados fornecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Este registro abrange uma gama diversificada de problemas, incluindo erros de diagnóstico, administração equivocada de medicamentos e desafios na comunicação entre equipes durante a transição de cuidados.
É particularmente preocupante observar que, dentre os incidentes notificados, 6.000 foram categorizados como “eventos nunca deveriam ocorrer”. Essas são situações extremas que resultam na morte do paciente ou na manifestação de graves sequelas, sublinhando a necessidade crítica de aprimorar os padrões de segurança e qualidade na prestação de cuidados de saúde.
O Grupo Care Anestesia (GCA) reconhece a seriedade da saúde e considera a garantia da segurança e qualidade ao paciente como sua missão primordial. Em 2021, como reflexo desse comprometimento, o GCA obteve a prestigiosa certificação internacional Qmentum Diamond. Essa metodologia não apenas orienta, mas também valida a adesão às melhores práticas internacionais, pautadas nos princípios de qualidade e segurança. O objetivo é otimizar a utilização dos recursos necessários de acordo com as demandas da população, proporcionando uma experiência de cuidado aprimorada.
Dia Mundial da Segurança do Paciente
No Congresso Nacional, encontra-se em processo de tramitação desde 2022 um projeto de lei que propõe a instituição do Estatuto dos Direitos do Paciente, um marco legislativo que, até então, é uma lacuna no panorama legal brasileiro referente aos direitos dos indivíduos no contexto da saúde. Esta iniciativa surge em um cenário em que a maioria dos países já estabeleceu legislações voltadas para proteger e assegurar os direitos dos pacientes.
Destaca-se que o Brasil figura entre os poucos países que ainda não possuem uma legislação específica para resguardar os direitos dos pacientes. Essa ausência coloca em evidência a necessidade premente de uma estrutura legal que promova e defenda os direitos fundamentais dos indivíduos no âmbito da assistência à saúde.
Assim como no âmbito internacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS) celebrou o quinto aniversário do Dia Mundial da Segurança do Paciente em setembro de 2023, com o tema “Engajando o paciente para segurança do paciente” e o slogan “Eleve a voz dos pacientes”. Essa iniciativa global destaca a importância de envolver ativamente os pacientes na promoção de uma assistência segura e de qualidade.
A OMS alerta que mais de 3 milhões de pessoas perdem a vida anualmente em todo o mundo devido a danos associados a cuidados em saúde inseguros, representando 1 em cada 10 pacientes, uma realidade que já persistia antes mesmo da pandemia. É relevante ressaltar que os impactos do cuidado inseguro são mais expressivos em países de renda baixa e média, onde anualmente ocorrem 134 milhões de eventos adversos em hospitais, contribuindo para 2,6 milhões de mortes. A maior parte desses óbitos é considerada evitável.
Conclusão
Em conclusão, no cerne de toda a complexidade da assistência à saúde, o papel ativo do paciente é uma constante que transcende modelos e desafios. Nesse contexto, o envolvimento proativo do paciente se revela como uma medida de segurança individual e como um componente essencial para a melhoria do sistema como um todo.
Ao elevar a voz dos pacientes, não apenas reconhecemos sua importância, mas também promovemos uma abordagem mais holística, eficaz e centrada no ser humano, contribuindo para um sistema de saúde mais seguro e satisfatório para todos.
“O hospital deve ser acolhedor para os pacientes e seus familiares, um desafio significativo. Nada substitui a calorosa recepção, o toque e o abraço”, esclarece o Dr. Gabriel Redondano, diretor-presidente do GCA.