A medicina moderna, apesar de avançada, não garante a cura de todas as enfermidades. Nesse cenário, entra em cena a medicina paliativa, focada em oferecer conforto e dignidade a pacientes em momentos críticos. A anestesiologia desempenha papel essencial, concentrando-se no controle da dor e de sintomas associados a doenças crônicas. Os anestesiologistas brasileiros foram pioneiros na oferta de Cuidados Paliativos, utilizando suas habilidades para aliviar a dor e lidar com complicações. Este artigo explora os cuidados paliativos e destaca o papel fundamental dos anestesiologistas nesse contexto.
O que são cuidados paliativos?
No cenário da medicina, os cuidados paliativos surgem como um campo especializado dedicado a proporcionar conforto e suporte abrangente a pacientes diante de doenças graves, crônicas ou potencialmente fatais. Distintos do tratamento curativo, concentram-se em aliviar sintomas, gerenciar sofrimentos e aprimorar a qualidade de vida, não apenas do paciente, mas também de seus familiares, independentemente do estágio da doença.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), define como: “Cuidado Paliativo é uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a vida. Previne e alivia o sofrimento através da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas físicos, psíquicos, sociofamiliares e espirituais.
Um dos princípios fundamentais é o reconhecimento da pessoa como um ser único, considerando os aspectos físicos, os emocionais, sociais e espirituais. Esse enfoque holístico visa proporcionar suporte abrangente, ultrapassando a abordagem clínica convencional e levando em conta as necessidades individuais e desejos do paciente.
Implementados desde o diagnóstico até o final da vida, os cuidados paliativos envolvem equipes multidisciplinares com profissionais de saúde, como médicos – incluindo os anestesiologistas -, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, trabalhando em conjunto para oferecer cuidado personalizado e compassivo.
A essência dos cuidados paliativos reside na promoção da dignidade e autonomia do paciente, abrangendo o controle efetivo de sintomas, como dor, além do suporte psicológico para enfrentar desafios emocionais relacionados a condições graves de saúde.
No âmbito do movimento “hospice” moderno, os cuidados paliativos retomam os valores fundamentais da prática médica propostos por Cicely Sounder, vendo o paciente de forma holística. Com uma equipe multidisciplinar, desenvolvem um plano de tratamento personalizado, incluindo terapias não medicamentosas e medicamentos para alívio de sintomas. Em resumo, representam uma abordagem integrativa e centrada no paciente, destacando a colaboração entre anestesiologistas e equipes de cuidados paliativos.
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Quais são os 4 pilares dos cuidados paliativos?
Fundamentados em quatro pilares essenciais, os cuidados paliativos visam controlar sintomas físicos, mas também abordar as dimensões emocionais, sociais e espirituais da jornada do paciente e de sua família. Estes quatro pilares destacam-se como alicerces:
Comunicação adequada
A importância da comunicação nos cuidados paliativos transcende seu papel convencional, tornando-se uma ferramenta terapêutica importantíssima no enfrentamento do sofrimento e no controle de sintomas. O diálogo contínuo permite compreender as necessidades do paciente e auxilia na aceitação e adaptação da família à doença. Abordando situações complexas, como a transmissão de más notícias, a comunicação eficaz emerge como um desafio constante para os profissionais de saúde neste contexto.
Apoio à família
A família desempenha um papel determinante na equipe de cuidados paliativos, recebendo suporte não apenas durante a fase da doença, mas também ao enfrentar perdas antes e após a morte do paciente. Reconhecendo a individualidade de cada família, o apoio inicia-se desde a referência à equipe e estende-se ao processo de luto. A presença familiar é fundamental para o paciente, proporcionando conforto emocional e contribuindo para a preservação das relações familiares, seja em ambiente hospitalar ou domiciliar.
Trabalho em equipe
A complexidade dos cuidados paliativos demanda uma abordagem multidisciplinar, com profissionais de diversas áreas unidos por metodologia, plano assistencial e objetivos comuns. Médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, entidades religiosas e voluntários formam uma equipe integrada para proporcionar alívio multidimensional ao sofrimento do paciente e da família, especialmente diante de um prognóstico de vida limitado.
Controle de sintomas
A complexidade dos sintomas apresentados pelos pacientes em cuidados paliativos requer uma estratégia terapêutica abrangente, considerando tanto abordagens farmacológicas quanto não farmacológicas. À medida que a doença progride, os sintomas podem intensificar-se, exigindo uma abordagem flexível para garantir o máximo conforto ao paciente.
Escala de Edmonton
A Escala de Edmonton para Avaliação de Sintomas Paliativos (ESAS, na sigla em inglês) destaca-se como uma ferramenta fundamental nos cuidados paliativos, abordando nove sintomas cruciais. Projetada para quantificar a intensidade desses sintomas em pacientes enfrentando condições de saúde graves, a ESAS inclui avaliações para dor, cansaço, náusea, depressão, ansiedade, sonolência, apetite, falta de ar e bem-estar.
Esta escala adota uma abordagem simples, solicitando aos pacientes que classifiquem a intensidade de cada sintoma em uma escala de 0 a 10, onde 0 representa a ausência do sintoma e 10 a intensidade máxima. Ao avaliar uma gama diversificada de sintomas, a ESAS oferece uma visão abrangente da experiência do paciente, facilitando uma comunicação mais efetiva entre profissionais de saúde e pacientes. Essa avaliação detalhada contribui para a personalização do plano de cuidados paliativos, garantindo uma resposta precisa às necessidades individuais daqueles que enfrentam condições de saúde desafiadoras.
Cuidados paliativos no controle da dor
A dor, um dos sintomas mais comuns e complexos nos cuidados paliativos, transforma-se em uma preocupação constante para o paciente, restringindo seus interesses. O gerenciamento da dor constitui um direito do paciente e é uma obrigação dos profissionais de saúde, considerando sua significativa influência na qualidade de vida.
Nos cuidados paliativos, o controle da dor emerge como uma prioridade na promoção da qualidade de vida para pacientes que enfrentam doenças graves ou terminais. A abordagem apropriada para gerenciar a dor é intrínseca a uma atenção compassiva e holística, reconhecendo que o alívio efetivo não apenas proporciona conforto físico, mas também influencia significativamente o bem-estar emocional, social e espiritual do paciente.
O controle da dor em cuidados paliativos é personalizado, considerando a natureza única de cada paciente e a origem diversificada da dor. O manejo da dor ocorre de acordo com as condições clínicas e a avaliação da intensidade da dor, permitindo a escolha do analgésico mais apropriado, seguindo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O tratamento farmacológico segue os três degraus da escada analgésica da OMS, escalonando a potência dos medicamentos conforme a intensidade da dor. O primeiro degrau envolve analgésicos não opióides, como Paracetamol e anti-inflamatórios, para dor leve. No segundo degrau, para dor leve a moderada, opióides fracos como Tramadol e Codeína são adicionados ao esquema anterior. O terceiro degrau, destinado à dor moderada a intensa, substitui os opióides fracos por opióides fortes, como a Morfina.
Nos cuidados paliativos, o controle da dor é uma intervenção médica eficaz e uma expressão compassiva de cuidado que busca alívio no âmbito físico, emocional, social e espiritual, garantindo que os objetivos e desejos do paciente sejam atendidos em todas as fases da doença.
PADRÕES E TIPOS DE DOR
A dor assume diversas formas, cada uma com características distintas. Essa compreensão é fundamental para um tratamento eficaz. Veremos agora os tipos de dor:
Dor aguda
A dor aguda caracteriza-se pelo seu início abrupto, geralmente associado a afecções traumáticas, infecciosas ou inflamatórias. Antecipa-se que desapareça após intervenções direcionadas, como a cura da lesão, imobilização ou administração de medicamentos. Este tipo de dor responde prontamente às intervenções, não sendo comumente recorrente. Além disso, está frequentemente acompanhada de respostas neurovegetativas, tais como aumento da pressão arterial, taquicardia, taquipneia, agitação psicomotora e ansiedade.
Dor crônica
A dor crônica, em contraste com a dor aguda, resulta de estimulações nociceptivas repetidas, gerando modificações no Sistema Nervoso Central (SNC). Ao contrário da resposta simpática associada à dor aguda, a dor crônica permite uma adaptação à condição. Persiste ao longo do tempo devido a processos patológicos crônicos, sendo mal delimitada no tempo e espaço, apresentando-se de forma contínua ou recorrente.
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Dor nociceptiva
Tanto a dor somática quanto a visceral são consideradas dores nociceptivas. A dor somática surge a partir de lesões na pele ou tecidos mais profundos, sendo geralmente localizada. Já a dor visceral tem origem em vísceras abdominais e/ou torácicas. Ambos os tipos de dor geralmente respondem a analgésicos opióides e não opióides, apresentando excelente eficácia no caso da dor somática e boa resposta na dor visceral. A dor nociceptiva é caracterizada por ser pouco localizada, descrita como uma sensação profunda e de pressão.
Dor neuropática
A dor neuropática pode resultar de lesões no Sistema Nervoso Periférico (SNP) ou Central (SNC), com o dano nervoso sendo causado por fatores como trauma, infecção, isquemia, doença degenerativa, invasão tumoral, injúria química ou radiação. É caracterizada por queixas de dor com irradiação neurodérmica e sensação de queimação.
Dor simpaticamente mantida (DSM)
Identificada na presença de dor neuropática, a dor simpática mantida está associada a disfunções autonômicas, incluindo edema local, alterações na sudorese e temperatura, e mudanças tróficas, como perda de cabelo, crescimento anormal de unhas e afinamento dos tecidos. Acredita-se que seja sustentada por atividade eferente no Sistema Nervoso Simpático.
A abordagem da dor em cuidados paliativos é personalizada, considerando as características distintas de cada tipo, proporcionando alívio eficaz e compassivo aos pacientes.
Cuidados paliativos oncológicos
Os cuidados paliativos oncológicos desempenham um papel muito importante na abordagem holística e compassiva do paciente com câncer. Esta abordagem visa proporcionar conforto e alívio de sintomas, diante dos desafios enfrentados durante o curso da doença.
O objetivo principal é melhorar a qualidade de vida, independente da fase da doença, integrando cuidados médicos especializados com suporte emocional e social.
Muitos pacientes com câncer avançado enfrentam diferentes tipos de dor, e o tratamento adequado depende da identificação de sua origem. Embora a dor neuropática possa ser melhorada, muitas vezes não é completamente aliviada pela analgesia com Opiáceos e não Opiáceos. Drogas analgésicas adjuvantes são frequentemente necessárias. Mas vale ressaltar, que a dor pode ser completamente aliviada em 80% a 90% dos pacientes, e um nível aceitável de alívio pode ser alcançado na maioria dos restantes.
O Rei do futebol, Pelé, falecido em 29 de dezembro de 2022, em São Paulo, recebeu cuidados paliativos na última semana de vida pela equipe médica do Hospital Israelita Albert Einstein. Ele enfrentava um câncer de cólon diagnosticado em 2021, que se espalhou para o intestino, pulmão e fígado. Diante de uma doença que ameaça a vida e tem poucas ou nulas possibilidades de cura, como nesse caso, os paliativistas entraram em cena, protagonizando o cuidado com o objetivo de prover conforto e aliviar os sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.
Alimentação e cuidados paliativos oncológicos
A desnutrição surge como uma das principais preocupações no contexto do câncer, com aproximadamente 40% dos pacientes já apresentando quadros desnutridos no momento do diagnóstico. Em estágios avançados da doença, esse percentual pode alcançar 80%. Portanto, os cuidados nutricionais devem ser integrados aos cuidados paliativos, visando aprimorar a qualidade de vida do paciente. Nesse cenário, a terapia nutricional e as adaptações conforme as necessidades individuais do paciente devem ser implementadas desde o diagnóstico do câncer avançado.
A importância da Anestesiologia nos cuidados paliativos
Ao longo do tempo, a convergência entre a Anestesiologia e os cuidados paliativos ganhou relevância, exemplificando a sinergia entre diferentes especialidades médicas para oferecer uma resposta abrangente às demandas difíceis dos pacientes.
A atuação do anestesiologista, comumente vinculada à administração de anestesia em intervenções cirúrgicas, vai além e possui um papel determinante nos cuidados paliativos, oferecendo uma abordagem especializada no alívio da dor e no gerenciamento de sintomas complexos. Utilizando estratégias como medicamentos analgésicos e bloqueios nervosos, aliviam o sofrimento, promovendo conforto e bem-estar.
Os anestesiologistas também gerenciam aspectos relacionados à doença subjacente, proporcionando alívio para sintomas como falta de ar, náuseas e ansiedade. Também desempenham uma função educativa, fornecendo informações sobre opções de tratamento e prognóstico, capacitando os pacientes e suas famílias a tomarem decisões informadas.
Além do controle da dor, têm relevância na indicação da sedação paliativa, buscando reduzir a consciência, oferecer conforto e aliviar a angústia intolerável do paciente, seguindo regras legislativas e éticas, com participação ativa da equipe, paciente (quando possível) e familiares.
Outra contribuição determinante da Anestesiologia nos cuidados paliativos é o suporte para pacientes que desejam tratamento domiciliar, permitindo que permaneçam em um ambiente confortável e seguro.
Os anestesiologistas seguem protocolos atualizados, contribuindo substancialmente para a redução do sofrimento e o aumento do conforto do paciente e de seus familiares, consolidando-se como peças essenciais na prestação de cuidados paliativos eficazes e humanizados.
Conclusão
Cuidados paliativos, com sua abordagem multidisciplinar e foco na qualidade de vida, representam terapias acessíveis e eficazes, de relativo baixo custo. Os anestesiologistas têm um papel essencial, proporcionando alívio da dor e sintomas associados a doenças crônicas avançadas. Esses cuidados visam atender às necessidades físicas, psicológicas, sociais e espirituais dos pacientes e exigem colaboração interdisciplinar. Essenciais nos serviços de saúde, os cuidados paliativos abordam aspectos científicos, éticos, morais, emocionais, culturais e espirituais. O objetivo principal é garantir um fim de vida digno, minimizando o sofrimento. É crucial entender que o término da possibilidade de cura não significa o fim das oportunidades de cuidados.
Cuidados paliativos em São Paulo?
Cuidados paliativos em Campinas?
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Fonte:
Cuidados Paliativos Oncológicos – Controle da Dor – Instituto Nacional do Câncer – Ministério da Saúde.
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