A endometriose é uma condição comum e debilitante que afeta milhões de mulheres em todo o mundo. Neste artigo, vamos abordar tudo o que você precisa saber sobre essa condição, desde o que é até os sintomas, tipos e tratamentos disponíveis.
No que diz respeito ao tratamento, há opções disponíveis para ajudar a aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das mulheres afetadas. Desde medicamentos para dor até cirurgias mais invasivas, é essencial discutir com o médico as melhores opções para cada caso.
Se você está buscando entender melhor essa condição complexa ou está procurando opções de tratamento, este guia irá fornecer tudo o que você precisa saber.
O que é endometriose?
A endometriose ocorre quando o tecido que normalmente reveste o útero, chamado endométrio, começa a crescer fora do útero. Isso pode causar sintomas como dor pélvica intensa, menstruação irregular e dificuldade para engravidar. Existem diferentes tipos de endometriose, cada um com suas próprias características e impacto na saúde feminina.
h2- Quais são os tipos de endometriose?
Endometriose peritoneal superficial
Neste tipo, observam-se lesões superficiais, principalmente na região pélvica. Embora essas alterações anatômicas sejam leves, elas podem contribuir para problemas de fertilidade e outros sintomas relacionados.
Endometrioma – endometriose ovariana
O endometrioma é essencialmente um cisto ovariano que contém líquido e tecido endometrial. Sua presença nos ovários pode levar a inflamação e, em casos de ruptura, causar dor aguda e intensa.
Endometriose profunda
Considerada a forma mais grave, a endometriose infiltrativa profunda se caracteriza por lesões mais profundas, frequentemente acompanhadas de aderências e alterações anatômicas significativas. Além de afetar os órgãos pélvicos, essa forma da doença pode estender-se para outros órgãos. É frequentemente associada à infertilidade feminina e exige abordagens de tratamento mais complexas.
Saiba mais sobre ‘Endometriose e infertilidade‘ e ‘Endometriose profunda é grave?‘, artigos produzido pela Associação Brasileira de Endometriose.
Classificação por estágios
A endometriose é classificada em estágios, com base na quantidade, localização e profundidade do tecido ectópico, bem como na presença de endometriomas e aderências. Essa classificação ajuda os médicos a determinar a gravidade da condição e a planejar o tratamento adequado.
Estádio I – mínima
Estádio II – leve
Estádio III – moderada
Estádio IV – grave
O que causa a endometriose?
A endometriose é uma condição complexa e ainda há muito a ser descoberto sobre suas causas exatas. No entanto, os especialistas acreditam que vários fatores podem desempenhar um papel no desenvolvimento da endometriose.
Uma das teorias mais aceitas é a teoria da menstruação retrógrada. De acordo com essa teoria, durante a menstruação, o sangue menstrual flui para trás, em vez de sair do corpo. Isso permite que as células endometriais presentes no sangue menstrual se fixem em órgãos fora do útero, levando ao desenvolvimento da endometriose.
Outra teoria sugere que as células endometriais podem se espalhar pelo corpo através do sistema linfático ou da corrente sanguínea. Essas células podem se fixar em diferentes órgãos e tecidos, formando lesões endometriais e causando os sintomas característicos da endometriose.
A endometriose ocasionalmente apresenta também uma predisposição hereditária, sendo mais prevalente entre familiares de primeiro grau (mães, irmãs e filhas) de mulheres afetadas pela condição.
Embora as causas exatas da endometriose ainda não sejam totalmente compreendidas, fatores genéticos, hormonais e imunológicos também podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento dessa condição.
Quais são os fatores de risco?
A endometriose apresenta uma série de fatores de risco que podem influenciar sua ocorrência. Entre esses fatores estão:
- História familiar materna, especialmente se mãe ou irmãs foram diagnosticadas com endometriose (risco de quase 10% a mais).
- Malformações uterinas
- Menarca precoce, caracterizada pela primeira menstruação antes dos 11 anos de idade.
- Ciclos menstruais curtos, com duração inferior a 27 dias.
- Fluxo menstrual prolongado ou aumentado, com menstruações que duram mais de oito dias.
- Estenoses cervicais
- Uso elevado de estrogênio
- Primeira gestação tardia, após os 30 anos
- Ausência de gestação durante o período reprodutivo
- Mãe que tomaram o medicamento dietilestilbestrol (DES) para evitar abortos espontâneos
- Menopausa tardia, após os 50 anos
- Sedentarismo
- Alimentação inadequada
- Índice de Massa Corporal (IMC) baixo
Por outro lado, há alguns grupos de mulheres que parecem ter uma tendência menor para desenvolver endometriose. Estes incluem mulheres que tiveram várias gestações, que amamentam por muito tempo, que começaram a menstruar após a época normal, que praticam atividade física regularmente, especialmente se iniciaram antes dos 15 anos e aquelas que têm utilizado anticoncepcionais orais de baixa dose por um longo período.
É importante destacar que, de acordo com dados da Associação Brasileira de Endometriose, entre 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva podem desenvolver a condição, enquanto 30% podem evoluir para infertilidade.
Quais os sintomas?
Os sintomas da endometriose podem variar de leves a graves e podem afetar cada mulher de maneira única. No entanto, existem alguns sintomas comuns associados a essa condição.
A dor pélvica é um dos sintomas mais característicos da endometriose. Essa dor pode ser intensa e persistente, ocorrendo durante a menstruação e ao longo do ciclo menstrual. Muitas mulheres descrevem essa dor como uma cólica intensa ou uma sensação de pressão na região.
Além da dor pélvica, a endometriose também pode causa:
- Dor durante a relação sexual (conhecida como dispareunia): ocorre devido à presença de lesões endometriais nos órgãos pélvicos, que podem ser sensíveis ao toque ou ao movimento durante o sexo.
- Menstruação irregular
- Sangramento menstrual intenso
- Fadiga
- Dor ou sangramento ao urinar ou defecar
- Diarréia
- Dificuldade para engravidar
É importante observar que nem todas as mulheres com endometriose apresentarão todos esses sintomas, e a gravidade dos sintomas pode variar de uma pessoa para outra.
Como é feito o diagnóstico da endometriose?
Identificar a endometriose requer uma abordagem abrangente, envolvendo uma variedade de procedimentos e exames.
Exame ginecológico clínico
O primeiro passo no diagnóstico da endometriose é o exame ginecológico clínico, que pode detectar sinais como dor ou sensibilidade durante o exame, ou nódulos de tecido anormal próximo aos ovários ou atrás do útero.
Exames de imagem
A ultrassonografia especializada é um exame-chave para mapear a endometriose, permitindo uma análise detalhada das aderências do tecido endometrial. A ressonância magnética também pode ser utilizada para visualizar a cavidade uterina com precisão.
Laparoscopia
A laparoscopia é considerada o método mais confiável para diagnosticar a endometriose. Um laparoscópio é inserido na cavidade abdominal através de uma pequena incisão, permitindo uma visualização direta do tecido endometrial. Este procedimento geralmente é realizado em um hospital sob anestesia geral.
Biópsia
Durante a laparoscopia, se for detectado tecido anormal, uma biópsia pode ser realizada para confirmar o diagnóstico. O tecido é coletado e analisado microscopicamente para identificar a presença de endometriose.
Laparotomia
Dependendo da localização do tecido ectópico, outras abordagens de diagnóstico podem ser necessárias, como exames de imagem específicos ou laparotomia, uma incisão maior no abdômen.
IMPORTANTE:
Durante muito tempo, a endometriose foi subestimada, tanto pelas pessoas que enfrentavam essa condição quanto pelos médicos que não investigavam os sintomas com a devida profundidade para identificar sua causa. No entanto, recentemente, essa condição recebeu uma atenção renovada, alertando para sua importância.
Como os sintomas da endometriose podem se sobrepor a outras condições, é essencial adotar uma abordagem diligente e minuciosa na investigação dos mesmos. Se você reconhece algum dos sintomas mencionados aqui, é fundamental procurar um ginecologista. Se, após uma avaliação inicial, a endometriose não for diagnosticada e mesmo seguindo o tratamento recomendado para outra condição os sintomas persistirem, não desista. É imprescindível retornar ao médico e, em último caso, buscar uma segunda opinião médica.
É importante ressaltar que sentir dor não é normal e deve ser encarado como um sinal de alerta do corpo. Portanto, persista na busca por respostas. Embora possa não ser endometriose em alguns casos, em outros, mesmo sendo um diagnóstico desafiador, pode ser essa condição.
Quais são as opções de tratamento?
Durante a menopausa, a endometriose tende a retroceder de forma espontânea devido às mudanças hormonais que ocorrem, incluindo a diminuição na produção de hormônios femininos e o fim dos ciclos menstruais.
Entretanto, existem várias opções de tratamento disponíveis para ajudar as mulheres a gerenciar seus sintomas e melhorar sua qualidade de vida. Deve-se também considerar o desejo da paciente de engravidar no futuro. O tratamento pode variar dependendo da gravidade da endometriose e dos objetivos individuais de cada paciente. Aqui estão algumas opções comuns de tratamento:
Medicamentos para alívio da dor
Os medicamentos anti-inflamatórios não esteroides para alívio da dor são frequentemente prescritos para mulheres com endometriose, especialmente para aquelas que experimentam dor intensa durante a menstruação ou dores pélvicas crônicas. Para casos mais graves, o médico pode prescrever medicamentos específicos que ajudam a suprimir a produção de estrogênio e reduzir o crescimento do tecido endometrial fora do útero.
Existem várias opções medicamentosas destinadas a suprimir a atividade ovariana, com o intuito de retardar o crescimento do tecido endometrial ectópico e reduzir sangramentos e desconfortos. Estes incluem:
- Contraceptivos orais combinados, que contêm estrogênio e progestina, são frequentemente prescritos, principalmente para mulheres que não têm planos de engravidar a curto prazo. Podem ser administrados de forma contínua para aliviar a dor, especialmente durante o período menstrual.
- Progestinas, como medroxiprogesterona e noretindrona, são alternativas quando os contraceptivos orais combinados não são adequados ou ineficazes.
- Antagonistas de GnRH, como elagolix e relugolix, também suprimem a produção de estrogênio pelos ovários, podendo ser associados a efeitos colaterais semelhantes aos dos agonistas de GnRH.
- Agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas (agonistas de GnRH), como leuprolida e nafarrelina, interrompem a comunicação entre o cérebro e os ovários, reduzindo a produção de estrogênio e progesterona. No entanto, seu uso prolongado pode resultar em efeitos colaterais como ondas de calor, alterações de humor e diminuição da densidade óssea.
- Danazol, um andrógeno sintético, inibe a ovulação, embora seu uso seja limitado devido aos efeitos colaterais, como ganho de peso e desenvolvimento de características masculinas.
Após o tratamento medicamentoso, as taxas de fertilidade variam de 40% a 60%, mas não há impacto significativo nas taxas de fertilidade em mulheres com endometriose mínima ou leve. É importante destacar que os medicamentos podem não eliminar completamente a endometriose e, mesmo se o fizerem, é comum a recorrência após a interrupção do tratamento, a menos que medidas mais invasivas sejam adotadas para suprimir a função ovariana de forma total e permanente.
Terapia hormonal
A terapia hormonal é outra opção de tratamento comum para a endometriose. Ela envolve o uso de medicamentos hormonais para controlar o crescimento do tecido endometrial, evitar a ovulação e reduzir os sintomas.
Cirurgia
Para casos mais graves de endometriose, a cirurgia pode ser necessária. A cirurgia pode envolver a remoção do tecido endometrial fora do útero (chamada de excisão) ou até mesmo a remoção parcial ou total do útero (histerectomia). A cirurgia também pode ser realizada para tratar aderências ou outros problemas relacionados à endometriose. É importante discutir os riscos, benefícios e possíveis efeitos colaterais da cirurgia com seu médico antes de decidir pelo procedimento.
A endometriose pode atingir outros locais do corpo?
Sim, a endometriose pode afetar diversos órgãos do corpo humano, incluindo ovários, trompas, intestino e bexiga. Surpreendentemente, existem até casos da doença nos pulmões, onde pode causar sintomas como tosse com sangramento.
No entanto, é importante exercer cautela ao relacionar a presença do endométrio em outros órgãos à falta de tratamento, pois em alguns casos ela pode começar em locais não usuais.
Homem tem endometriose?
A associação entre endometriose e mulheres é praticamente automática, pois a condição está intimamente relacionada ao útero, não é mesmo? Porém, contrariando essa ideia, em casos extremamente raros, homens também podem ser afetados por essa condição.
Uma análise aprofundada da literatura sobre endometriose masculina revela ocorrências incomuns que surgiram a partir do utrículo prostático, uma estrutura anatômica localizada entre os canais ejaculadores na uretra, por vezes chamada de “útero masculino”. Estudos apontam uma conexão surpreendente entre a obesidade e o aumento na produção de estrogênio em homens, possivelmente devido ao incremento da atividade de aromatização do tecido adiposo, à superexpressão de citocinas pró-inflamatórias, à resistência à insulina e à hiperativação das vias de fator de crescimento semelhante à insulina. Esse cenário teoricamente poderia impulsionar o surgimento de endometriose em homens a partir de células embrionárias residuais.
Além disso, existem relatos na literatura médica de homens diagnosticados com endometriose após tratamento com estrogênio para câncer de próstata.
Portanto, embora rara, a endometriose pode afetar homens, conforme evidenciado por casos documentados. Porém, sua ocorrência é extremamente incomum em comparação com sua predominância em mulheres.
Mudanças no estilo de vida
Além do tratamento médico, algumas mudanças no estilo de vida podem ajudar a controlar a endometriose e reduzir os sintomas. Embora essas mudanças possam não ser tão eficazes como o tratamento médico, elas podem complementar o cuidado médico e melhorar a qualidade de vida das mulheres afetadas.
Alimentação saudável
Uma dieta equilibrada e saudável pode ajudar a reduzir os sintomas da endometriose. Alimentos ricos em nutrientes, como frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras, podem ajudar a fortalecer o sistema imunológico e reduzir a inflamação no corpo. Ao mesmo tempo, é importante evitar alimentos processados, ricos em gorduras saturadas e aditivos químicos, pois eles podem agravar os sintomas da endometriose.
Confira o artigo ‘Dieta anti-inflamatória para endometriose‘ da Associação Brasileira de Endometriose.
Exercícios físicos regulares
A prática regular de exercícios físicos pode ter benefícios significativos para mulheres com endometriose. O exercício ajuda a liberar endorfinas, que são substâncias químicas naturais do corpo que podem ajudar a reduzir a dor e melhorar o humor. Além disso, a atividade física regular ajuda a manter um peso saudável e reduzir os níveis de estresse, o que pode ser benéfico para mulheres com endometriose.
Redução do consumo de álcool
O consumo excessivo de álcool pode exacerbar os sintomas da endometriose. Mesmo em quantidades moderadas, aumenta o estresse oxidativo do corpo, o que pode intensificar a dor pélvica associada à endometriose.
Gerenciamento do estresse
O estresse pode desempenhar um papel importante no agravamento dos sintomas da endometriose. Portanto, é importante adotar estratégias eficazes de gerenciamento do estresse, como a prática de técnicas de relaxamento, meditação, ioga ou qualquer outra atividade que proporcione alívio e bem-estar mental. O sono adequado e a busca por atividades prazerosas também são importantes para reduzir o estresse e melhorar a qualidade de vida.
Conclusão:
A endometriose pode ser uma condição desafiadora de se lidar, mas com o tratamento adequado, mudanças no estilo de vida e apoio adequado, é possível melhorar a qualidade de vida das mulheres afetadas.
Lembre-se de que você não está sozinha! Com o tempo, paciência e cuidado adequado, é possível viver uma vida plena e encontrar esperança mesmo com a endometriose.
Conheça o ‘Protocolo da Endometriose’, elaborado pela Federal Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Confira outros artigos:
Endometriose no ovário
Endometriose como descobrir
Tratamento para endometriose
Endometriose intestinal: perguntas e respostas para você entender a doença
Endometriose gravidez: perguntas e respostas para você entender o problema
Saúde feminina: doenças que mais afetam as mulheres
Guia completo sobre a Saúde da Mulher